Foto: Warley Leite
Quanto vale a vida? A sua vida? A minha vida? Essas perguntas já passaram por mim antes mas, confesso, nunca me importei muito em procurar a resposta. Porém, agora, esses questionamentos não saem da cabeça. Desde sexta-feira está difícil pensar em outra coisa a não ser na criminalidade.
Ironicamente, na sexta, a última matéria que fechei no jornal foi sobre roubo. Já passava das 23h. Quando fechei a página, desliguei o computador, eu queria me teletransportar para casa, para o chuveiro. Na saída do jornal, peguei o celular e mandei uma mensagem para uma amiga. Mal sabia que era o último sms que mandaria daquele aparelho. Pouco tempo depois a contabilidade foi de cinco meliantes, três bicicletas, duas armas e ameaças. E mais uma hora na delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência.
Cheguei em casa atordoado. Mesmo dois dias depois ainda estou atordoado. Agora penso nos passos errados que dei. No fato de andar de maneira distraída e não ter ficado alerta a tudo que estava ao redor. Acho que a única coisa que pensei foi: "Ufa! Acabou meu dia. Vou pra casa, enfim". Nada mais. Coloquei os fones e fui na caminhada de sempre, que não demora mais que 35 minutos. Quando cantarolava uma música qualquer do Djavan, errei. Em vez de ir pela rua Sacramento fui pela Visconde do Rio Branco. Rua quase deserta. Quase. Naquele exato momento, infelizmente, passavam cinco pessoas.
Agora peguei um nojo momentâneo de celulares. Quero comprar um novo, mas já estou pensando quando ele pode ser roubado novamente. A sensação de impotência do momento cicatrizou e se tornou revolta. São questionamentos insistentes: "Onde estavam os policiais que ficam aos montes nas ruas do centro durante o dia?"; "Por que o número de policiais durante o dia não é o mesmo durante a noite?"; etc, etc, etc...
Lembro que, no caminho para o 1º Distrito Policial, passei por um posto de gasolina onde muita gente fazia o tal do 'esquenta'. Parei na esquina para pegar uma carona com meu pai, com quem encontrei e fiquei esperando para me buscar e levar até a delegacia. Nesse meio tempo, três carros passaram seguidamente tocando funk no último volume. Bonés, correntes de prata e jeito de malandro. Fiquei com raiva. Pode ser preconceito meu (talvez seja mesmo), mas acredito que uma parte disso tudo está no lixo musical e cultural brasileiro. Parcela pequena, é verdade. Mas está lá!
Conversando com um amigo, ele e disse: "Pense que você é um cara trabalhador e esses caras vão estar mortos ou no CDP daqui a pouco". O problema é que a liberdade que temos é cada vez menor, mesmo estando fora dos CDP's. Todo o dinheiro ganho vai para o seguro do carro, da câmera fotográfica (que é o seu instrumento de trabalho), do celular e tudo isso não passa de material para eles. E não interessa se você trabalhou duro para ter tudo isso. Periga de receber, além de um tiro, uma justificativa alegando que o roubo faz parte do trabalho deles.
Enfim... não quero mais chorar pelo leite derramado ou pelo celular roubado. É difícil digerir tudo e continuar pensando positivamente em um mundo melhor. Às vezes penso que o mundo não tem mais salvação. Pode fechar e recomeçar. Do zero! Só que, para não ser taxado de chato, tenho que me fazer de otimista. Ser o 'alegrão', ser feliz pelo simples fato do canário ser amarelo.
E aí, já pensou o quanto vale sua vida?