quarta-feira, 9 de julho de 2014

O vira-lata se transformou em poodle

Foto:EFE
Tenho que confessar que ainda estou tentando entender o que aconteceu no Mineirão na terça-feira. O show de horrores diante dos olhos ainda vai demorar para ser digerido. Eu nunca fui de torcer fanaticamente pela Seleção. Talvez apenas em 98. E a sensação depois do passeio alemão foi a mesma do que a 16 anos atrás, quando era apenas um garoto de 9 anos. Nessa Copa, talvez por ser aqui, passei a torcer mais. Não deu certo, fiquei triste. Chateado mesmo. Mais ou menos quando o Taubaté perde numa, infinitamente menor, série A-3 do Paulistão.

Estranho, né? Se pararmos para pensar não existe uma lógica. Apenas quem vive isso sabe como é. Não tem como explicar para quem não acompanha. É difícil. E tem como explicar a sensação de vazio depois de uma derrota, sendo que você não está diretamente ligado ao fato ou atuando em campo? Não, não tem. E essa é uma das grandes graças (ou desgraças) do esporte. Eu nasci gostando de esporte, principalmente de futebol, por influência do meu pai. O esporte é paixão e nem por isso posso ser considerado um cidadão alienado.

Durante o jogo, entre várias tirações de sarro (inclusive algumas minhas) nas redes sociais era possível ver sequências de 'kkkkk' a cada gol da Alemanha - e olha que foram sete! Os autores das 'web-gargalhadas' se autoclassificam como politizados, como 'não alienados', como não pertencente do pão e circo em que vivemos nos dias de hoje e blá-blá-blá... Está na moda torcer contra a Seleção, seja por ser contra os gastos da Copa, contra a CBF, contra o Marin, contra o Marco Polo Del Nero, por causa da saúde precária, da falta de educação... Ou seja, motivos não faltam. É claro que existe muita picaretagem no futebol. É claro que, para os 'craques' selecionados para tal competição, o dinheiro fala mais alto muitas (quase todas?) as vezes. Mas, para quem está de fora e gosta de futebol não tem como separar.

É claro também que todos os motivos para não acompanhar o esporte bretão são válidos. Precisamos melhorar a saúde, a educação, reduzir a corrupção e por aí vai. Mas brasileiro adora misturar as coisas e colocar política onde, muitas vezes, não existe. De quem foi a culpa da derrota no Mineirão? Da Dilma? Sério? (Lembrando, não sou partidário de A ou B). Aos que torceram para a Alemanha, a derrota em campo não vai fazer a qualidade do ensino melhorar, infelizmente.
Jogadores da Colômbia recepcionados com festa
E no facebook surgiram vários desses 'inteligentes' que torceram contra o Brasil agradecendo a Alemanha e chamando os que torceram de "otários" ou coisas do tipo. Se eles são tão inteligentes como dizem, por que estavam assistindo ao jogo e fazendo piadinhas nas redes sociais? Não sei, talvez o gosto do pão e a graça do circo estavam satisfatórios naquele momento.

Aliás, está na moda também 'brasileiros' torcerem para a Argentina. Pior: estão falando portunhol, chamando o time de Messi e companhia de "nossa seleção" (!!). Os argentinos (legítimos) estão passando por uma crise financeira e acredito que não deva existir os mesmos 'inteligentes' como aqui. Eles não torcem para o Brasil por causa disso. Ah, e os salários dos jogadores de lá são tão altos quanto os dos atletas brasileiros. E tem gente daqui que não liga em torcer por eles. A lógica? Não encontrei. Tente você, leitor!  

A internet e seus 'politizados' transformaram o complexo de vira-lata em complexo de poodle. Só quem tem um cachorro dessa raça sabe como é: cheio de frescuras, ele late até encher a paciência, desafia os demais para duelos, mas não fazem nada além disso. Acho engraçado que os 'latidos virtuais' ainda não chegaram ao carnaval (olha eu falando do carnaval novamente). Talvez porque os 'inteligentes' estejam se embebedando ao som das marchinhas.

A intenção que dá ao ouvir os latidos dos poodles é que apenas o brasileiro para para ver jogos da Copa. Que os alemães, ingleses, franceses e demais europeus não se juntam na praça para ficar em frente a telões. Isso é coisa só de brasileiro alienado. É? Mesmo?

Aos 'inteligentes', deixo um recado: na próxima, saiam de casa na hora do jogo. Leiam livros.
Aos 'patriotas da Copa do Mundo' que dizem ser "brasileiros com muito orgulho e muito amor" apenas durante eventos esportivos vai o recado também: o esporte não é tudo. Amamos, gostamos, mas não é tudo. Antes de apontar o dedo para alguém, olhe para o próprio umbigo e tentem fazer algo também para o país, para não correr o risco de morrer engasgado com a coxinha de ossobuco.

E para os 'brasileños': o papel de vocês é patético.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Vai ter ou não vai ter, eis a questão...



Hashtag VaiTerCopa ou Hashtag NãoVaiTerCopa?

Em qual time você está? Eu estou dividido. Há sete anos, quando o país foi confirmado como sede, eu não concordei. Não concordo até hoje. Isso porque já era possível prever os atrasos nas obras ou - pior - a não entrega delas, os estádios absurdamente caros, etc...

Claro que não faço parte do time dos chatos. Aqueles que chamam de alienados os colecionadores de figurinha por achar que "poderiam estar fazendo algo pelo país ao invés de se reunirem para completar o álbum". O grande problema nisso tudo é que as mesmas pessoas que fazem essas críticas são as mesmas que adoram - e até se gabam de - ficar bêbadas no carnaval de São Luiz do Paraitinga. Isso também não seria uma perda de tempo? Não seria alienação? Copa do Mundo tem de quatro em quatro anos e o carnaval que tem todo começo de ano? Ah, e as reuniões para as trocas de figurinha não matam pessoas, já o carnaval... as estatísticas estão aí para mostrar quantas acontecem nas estradas brasileiras.

Bom, mas o assunto é o Mundial. Até ontem, dia 11, eu estava bem tranquilo quanto à Copa. Não fui afetado pela ansiedade como aconteceram outras vezes. Mas isso começou a mudar no final da tarde. Saí da redação com uma sensação diferente, semelhante a que sinto quando deixo o local de trabalho no final do ano. Como se algo fosse mudar depois do dia 12 de junho. Estranho, não?

No caminho da rodoviária até minha casa, uma caminhada de no máximo dez minutos, pude ver que as ruas, enfim, estão enfeitadas. Os enfeites, na verdade, foram feitos tão 'nas coxas' quanto os estádios. Mas, assim como os palcos da Copa, eles estão lá. De um dia para o outro o clima característico do fanatismo pelo principal evento do futebol tomou conta de parte da cidade. Bom, pelo menos do caminho que eu faço da rodoviária até em casa.

Porém é necessário que todos tenham a noção de que a 'Copa das Copas' não vai acontecer.  Cada vez que leio notícias sobre José Maria Marin, Joseph Blatter e suas maracutaias, todas as vezes que vejo imagens do horroroso e inacabado Itaquerão (ou Arena Corinthians ou, ainda, Arena São Paulo) me dá uma dor no estômago. Isso aumenta quando leio as notícias das alfinetadas dos gringos. Claro que, sobre esse item, temos que relevar porque a
lguns comentários são carregados de preconceito, mas é complicado mesmo assim.

E, se com a Copa já está difícil, imagina daqui a dois anos, com os Jogos Olímpicos? A queda do cavalo tende a ser pior e mais dolorosa. Acho que a energia que vai ser gasta nesses protestos deve ser concentrada para protestos contra os Jogos Olímpicos (que, é bom lembrar, muita gente comemorou a escolha na praia de Copacabana, com telão e tudo mais).

Até porque agora não adianta nenhum protesto contra a Copa. Ela já está aí. A vaia contra a Dilma é válida, contra o Marin e o Blatter vale ainda mais. Só não seja chato de ficar buzinando na orelha das pessoas falando que "quem gosta de Copa é alienado", "que o Neymar não vale mais que um professor" e outros discursos que são vazios por saírem da boca para fora.

Os ídolos esportivos existem em todos os países, não só no Brasil. Americano gosta do tal 'football', jogado com as mãos e que tem a bola oval. Só não existe Copa para o esporte porque quase ninguém mais joga.  E lá, acredito, ninguém fica falando de alienação e coisa parecida. Sejam responsáveis no momento certo.

Caso você não goste de Copa do Mundo não assista. Desligue a televisão, vá ler um livro. Ah, e nos jogos do Brasil, procure não sair cedo do trabalho.

Resumindo tudo isso: Vai ter Copa, mas não deveria (pelo menos não aqui).

domingo, 25 de agosto de 2013

Desabafo...

 Foto: Warley Leite

Quanto vale a vida? A sua vida? A minha vida? Essas perguntas já passaram por mim antes mas, confesso, nunca me importei muito em procurar a resposta. Porém, agora, esses questionamentos não saem da cabeça. Desde sexta-feira está difícil pensar em outra coisa a não ser na criminalidade. 
Ironicamente, na sexta, a última matéria que fechei no jornal foi sobre roubo. Já passava das 23h. Quando fechei a página, desliguei o computador, eu queria me teletransportar para casa, para o chuveiro. Na saída do jornal, peguei o celular e mandei uma mensagem para uma amiga. Mal sabia que era o último sms que mandaria daquele aparelho. Pouco tempo depois  a contabilidade foi de cinco meliantes, três bicicletas, duas armas e ameaças. E mais uma hora na delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência.

Cheguei em casa atordoado. Mesmo dois dias depois ainda estou atordoado. Agora penso nos passos errados que dei. No fato de andar de maneira distraída e não ter ficado alerta a tudo que estava ao redor. Acho que a única coisa que pensei foi: "Ufa! Acabou meu dia. Vou pra casa, enfim". Nada mais. Coloquei os fones e fui na caminhada de sempre, que não demora mais que 35 minutos. Quando cantarolava uma música qualquer do Djavan, errei. Em vez de ir pela rua Sacramento fui pela Visconde do Rio Branco. Rua quase deserta. Quase. Naquele exato momento, infelizmente, passavam cinco pessoas.

Agora peguei um nojo momentâneo de celulares. Quero comprar um novo, mas já estou pensando quando ele pode ser roubado novamente. A sensação de impotência do momento cicatrizou e se tornou revolta. São questionamentos insistentes: "Onde estavam os policiais que ficam aos montes nas ruas do centro durante o dia?"; "Por que o número de policiais durante o dia não é o mesmo durante a noite?"; etc, etc, etc...

Lembro que, no caminho para o 1º Distrito Policial, passei por um posto de gasolina onde muita gente fazia o tal do 'esquenta'. Parei na esquina para pegar uma carona com meu pai, com quem encontrei e fiquei esperando para me buscar e levar até a delegacia. Nesse meio tempo, três carros passaram seguidamente tocando funk no último volume. Bonés, correntes de prata e jeito de malandro. Fiquei com raiva. Pode ser preconceito meu (talvez seja mesmo), mas acredito que uma parte disso tudo está no lixo musical e cultural brasileiro. Parcela pequena, é verdade. Mas está lá! 

Conversando com um amigo, ele e disse: "Pense que você é um cara trabalhador e esses caras vão estar mortos ou no CDP daqui a pouco". O problema é que a liberdade que temos é cada vez menor, mesmo estando fora dos CDP's. Todo o dinheiro ganho vai para o seguro do carro, da câmera fotográfica (que é o seu instrumento de trabalho), do celular e tudo isso não passa de material para eles. E não interessa se você trabalhou duro para ter tudo isso. Periga de receber, além de um tiro, uma justificativa alegando que o roubo faz parte do trabalho deles.

Enfim... não quero mais chorar pelo leite derramado ou pelo celular roubado. É difícil digerir tudo e continuar pensando positivamente em um mundo melhor. Às vezes penso que o mundo não tem mais salvação. Pode fechar e recomeçar. Do zero! Só que, para não ser taxado de chato, tenho que me fazer de otimista. Ser o 'alegrão', ser feliz pelo simples fato do canário ser amarelo.

E aí, já pensou o quanto vale sua vida?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestação do Bombadas.com


 O que surgiu como um grande movimento que iria mudar o Brasil e tudo mais, está sendo banalizado. A verdade é essa. O que antes era para protestar contra o aumento na passagem do ônibus, hoje virou motivo para as cocotinhas postarem fotinho no Instagram e no Facebook, com a bundinha arrebitada e a carinha, sorrindo, colada com a carinha da amiguinha sempre fiel. Toda essa história de "hashtag - O Brasil acordou", ou "hashtag - Vem pra rua" parece que não vale mais nada (esse #VemPraRua, inclusive, pega carona em um comercial de automóvel que exalta a Copa do Mundo no país, ponto bastante criticado por muitos manifestantes).

Na quinta-feira, dia 20 de junho, fui fotografar o manifesto nas ruas de Taubaté e serviu para confirmar o que eu já desconfiava: Que muita gente se acha politizada só por estar nesses movimentos, mesmo sem ter nada para reivindicar. E é aí que o número das fotinhos com esse tema no Facebook crescem, para provar que estavam "mudando o país". Mas o que vi na praça Dom Epaminondas, em frente à Catedral da cidade, foi uma balada a céu aberto, com várias tribos. Tinha os que protestavam, os que conversavam, os que tomavam uísque barato e assim por diante. Ao invés de um grito uníssono contra algo, existia um silêncio ensurdecedor. Silêncio, aliás, que foi rompido pelo som que vinham dos meus fones de ouvido, pois a vergonha que sentia era considerável. 

Enquanto tirava fotos gerais da manifestação e de cartazes que queriam dizer alguma coisa, as cocotinhas insistiam em me pedir para tirar foto. E a pergunta vinha logo em seguida: "Vai postar onde?". Minha vontade era responder: "No bombadas.com" (falecido Bombadas.com). As palavras de "não é só vinte centavos" já virou bordão estilo Zorra Total como o "pede pra sair", do filme Tropa de Elite. Quando eu imaginava que as coisas não podiam piorar, surgiu uma kombi com alto-falante e um rapaz com voz de locutor de AM falando "Vamos para a Dutra. Vamos parar a Dutra porque em São José já pararam". Pronto, aí a balada saiu da Catedral e foi para o Petroval (para quem não conhece, é uma loja de conveniência de um posto muito frequentada por baladeiros -- ou seria a playboyzada? -- para fazer o "esquenta" pré-balada), o que fez piorar a situação, já que o abastecimento alcoólico ali seria e era maior. 


Depois de várias horas, muitos dos "engajados na causa" já tinham ido embora e não tomaram bombas de gás na cara com a chegada da PM ("Verás que um filho teu não foge à luta" ?). E a batalha, é bom que se diga, não aconteceria caso os (poucos) manifestantes aceitassem o pedido dos policiais e liberassem a rodovia. A batalha, também é bom que se diga, foi agravada por causa das garrafas de cerveja arremessadas contra os PMs (resultado da balada a céu aberto do Petroval).

Sentei do lado de um senhor que estava lá desde o começo vendo a situação. Ele deu sua opinião sincera: "Acho que tem que protestar mesmo, fechar a Dutra mesmo. Mas já deu, né? Tem que deixar o caminhoneiro trabalhar porque é ele que vai arcar com os prejuízos e não a empresa", disse o senhor Osvaldo, que assistia tudo na maior calma possível ao lado do Negão, um simpático vira-lata.

Moral da história e resumo da ópera: banalizou. Tem gente que reclama da Copa, mas adora curtir o Carnaval (que também tem dinheiro público investido). Tem gente que critica a Globo, mas no primeiro jogo da Libertadores do seu time de coração está lá, grudadinho na tela e xingando muito o Galvão no twitter. Ninguém tem um motivo real ou original para protestar. O Brasil não foi escolhido como país sede da Copa ontem. Isso aconteceu em 2007.


O taubateano teve a chance de fazer isso há dois anos, quando o prefeito Roberto Peixoto foi preso e colocou a cidade no cenário nacional de forma negativa. As manifestações, talvez, funcionassem melhor agindo em uma causa própria e não pegando uma causa de outro grupo (como os vinte centavos) e aplicar na sua realidade. E como disse meu pai: "a arma que o povo tem é o voto". E é bem por aí, já que muitos pregam o voto nulo. Eu penso que, se a pessoa vota nulo ou não quer votar, não tem o direito de reclamar. Seria bom se todo mundo usasse essa força para votar com a cabeça!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ele decidiu ser uma alma livre... *

  Momentos antes da última largada da carreira, no circuito de Ímola, em San Marino

O dia 1º de maio de 1994 tinha tudo para ser um domingo como outro qualquer. Fui acordado pelo meu pai que estava arrumando as coisas para o sagrado futebol no campo do 'seu' João. Levantei rápido e, lógico, já liguei a televisão. Domingo era dia de pelada com o 'velho', guaraná Joaninha e Fórmula Um. Era muito difícil, naquela época, alguém ignorar esse esporte a motor. "Culpa" de Nelson Piquet e Ayrton Senna.

Em 1994 eu era apenas um garoto de cinco anos de idade, mas já sabia que o "cara de capacete amarelo" era o nosso herói. E naquele dia liguei a televisão para assistir a primeira metade da corrida, enquanto meu pai esperava um amigo passar em casa para nos levar para o futebol (a segunda metade todos assistiam no campo do 'seu' João. A pelada só começava quando a corrida terminava ou Senna saía). Só que logo no começo, na sétima volta, o acidente (que todo mundo já assistiu milhares de vezes) aconteceu. Na hora, minha primeira reação foi correr para a minha avó, que estava na cozinha. Minha tia ligou a televisão na mesma hora e apontou a mancha vermelha ao lado do carro.

“Isso é sangue, não é?”, perguntou ela. Na hora pensei: “Sangue? Não é possível! Isso é gasolina. Só pode ser”. Na minha cabeça Senna era um tipo de Homem de Ferro, igual ao do filme. A diferença é que ele era mais legal do que o personagem dos quadrinhos.
Chegando no campo, fiquei com os filhos dos amigos do meu pai, já que era costume jogar bola com eles enquanto nossos pais estavam jogando também. Mas a única coisa que fizemos foi falar sobre o Senna, sobre o acidente.
“O que será que aconteceu?”
“Por que o sangue? Era sangue mesmo? De onde veio o sangue?”
“Ah, se o sangue veio da barriga dá para costurar!”
“Dá?”
“Dá! Mas e se foi no pescoço? Aí, acho que não dá”
“Não dá?”
Esse foi o diálogo que tive com uma das crianças que estavam lá comigo. Não lembro de ter bebido o famoso e delicioso guaraná Joaninha naquele domingo. Lembro de chegar na casa da minha avó, onde morávamos, e um vizinho me dizer: 
“Você viu? O Senna morreu!”
“Morreu? Como assim, morreu?”

Na hora veio o acidente do Roland Ratzenberger, piloto austríaco que morreu nos treinos de sábado. A imagem da cabeça dele balançando após a colisão também me marcou. Não acreditei no que o vizinho disse, embora soubesse que a coisa era séria. Mesmo com cinco anos de idade, dava para ter essa noção. Porém, a notícia ainda não era oficial. No almoço o tema da conversa era o mesmo. Na TV, boletins com o Léo Batista informavam sobre o que acontecia na Itália. Até que veio a triste notícia. Eu estava na sala, no tapete, onde semanas atrás gritava junto com meu pai para que o fiscal empurrasse a Williams FW-16 para dentro da pista de Interlagos quando Senna rodou no GP do Brasil, o primeiro daquele ano.

À tarde, como de costume, fiz o meu Grande Prêmio da Praça Monsenhor Silva Barros, com meus carrinhos de plástico. Mas não era a mesma coisa, o incentivo não era o mesmo. No dia seguinte levei um volante velho que tinha para a escola. Era uma espécie de homenagem? Não sei. Talvez.

Nessa época, com cinco anos de idade, a gente não sabia ainda o que era a morte realmente. Acredito que nenhum dos coleguinhas tinha passado por isso na família. E então nos deparamos com uma morte que comove milhões de pessoas. As coisas ficaram ainda mais confusas. Uma menina falou: "Minha mãe disse que as pessoas boas vão para o céu quando morrem". E a professora concordou, explicou do jeito dela como isso poderia acontecer e tal. Uma tentativa de tornar as coisas normais. 

Hoje, 19 anos depois, já li muitas coisas sobre o acidente, já vi o acidente no youtube pelo menos um milhão de vezes e acredito que as coisas acontecem quando tem que acontecer. Se está escrito não tem quem mude. O que é uma pena, em alguns casos. Como esse, por exemplo. O lado bom é que existe um legado nisso tudo, um rastro. Assistindo as corridas do Senna, podemos aprender a não desistir (Suzuka 1989 e Interlagos 1991), a insistir no que acha certo (Interlagos 1993), entre outras coisas...

*O título é parte da letra da música "Corredor-X" do Biquíni Cavadão, de 1988.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Elvis não morreu... nem Zélia!


Vou abrir um espaço no blog para fazer uma homenagem. Esse post é dedicado à Dona Zélia. Uma senhora que morava na mesma calçada de casa e que era conhecida no bairro inteiro como a maior fã do Elvis Presley da cidade, ou até, quem sabe, de toda a região. Ela faleceu há duas semanas depois de passar por sérios problemas de saúde.

O texto que vou publicar foi feito por mim em 2008 para uma disciplina na faculdade, quando estava cursando o segundo ano. O título do texto era: "Elvis não morreu! Apenas passa férias em Taubaté"

Dona Zélia com algumas peças da coleção


Zélia Oliveira Franco, 68, lecionou as disciplinas de história e geografia na rede estadual de ensino durante 32 anos de sua vida. Aposentada desde 2003, ela ocupa o tempo livre lendo os inúmeros livros que tomam conta das estantes, dando aulas particulares para os filhos de alguns vizinhos, além de ouvir, assistir e cultuar a música do artista que, mesmo depois de morto, é o que mais vende discos no mundo: Elvis Presley.

No, antes pacato, bairro Jardim Maria Augusta, em Taubaté, a professora Zélia Oliveira Franco, ou ‘Zélvis’ (como é mais conhecida), acorda cedo para fazer a caminhada habitual na praça em frente à residência onde mora. Às 10h da manhã de segunda-feira, Zélia abre as portas da sua casa para conceder a entrevista. Logo na entrada, alguns quadros e pôsteres que ocupam algumas paredes mostram as várias fazes do ídolo dessa simpática senhora. 

Zélia nasceu na cidade de Celly Campello, mas foi outro ícone do Rock’n’Roll que fascinou a professora. Ela conta que em 1953 ouviu pela primeira vez o cantor americano, famoso pela voz grave e os olhos verdes. “Eu ouvi na rádio, me apaixonei pela voz e logo pensei: ‘Nossa, esse moço deve ser muito bonito’. Fiz questão de não esquecer o nome dele”. Eis que um dia, passando pelo antigo ‘Cine Palace’ (hoje sede de uma igreja evangélica), ela avistou um cartaz anunciando o longa-metragem ‘Love me Tender’, no qual a estrela principal era o mesmo cantor da voz grave que ela fez questão de gardar o nome há tempos atrás.

Zélia cabulou aula durante toda a semana, com o intuito de assistir o filme. Para isso ela tinha um plano infalível: “Eu ia para a escola com uma saia justa por baixo do uniforme e uma sapatilha na bolsa. Próximo ao cinema existia um terreno baldio onde eu trocava de roupa, para não ser pega com o uniforme”.

No ano de 1967, Zélia começou a cursar a faculdade de História e logo em seguida, começou a dar aulas no Colégio Idesa, substituindo outra professora que se ausentara para lecionar em outra escola. A partir daí, Zélia trabalhou em várias cidades do Vale do Paraíba, até dar aula em Taubaté novamente, desta vez, no Colégio Estadual Monteiro Lobato, o ‘Estadão’. “Dei aula até 1997, quando me aposentei. Quis voltar e fiquei até 2003, para sair definitivamente, porque hoje os alunos não sabem qual é o continente asiático, mas mesmo assim passam de ano. Por isso minha saída foi oficial, mas ainda sinto falta, quando ouço o sinal do colégio, fico com vontade de voltar”.

Na casa de seis cômodos estão amontoados todos os tipos de recordações e lembranças de Elvis Presley. Revistas (em português, espanhol e inglês), livros (um deles, de receita, que ensina como fazer os pratos preferidos do cantor), quadros, bonecos, canecas, fronha com o nome dele gravado. Porém, Zélia não tem a conta exata de quantos objetos, que levam a marca do ‘Rei do Rock’n’Roll’, ela possui. Na parte dos discos, segundo às contas de Dona Zélvis, são cerca de 300 CD’s e 200 LP’s, sendo que entre os antigos ‘bolachões’ estão os chamados ‘Picture Disc’. Esses Long Plays trazem a foto de Elvis nos dois lados. “Para tocar esses discos é necessário ter uma vitrola com agulha de diamante. Como eu não tenho, não me arrisco a colocá-los para tocar, por isso tenho todos eles em CD”, explica.

Mas o que chama a atenção em meio a todos esses objetos são as fotos e algumas lembranças furtadas da Casa do Elvis, em Memphis, no estado norte americano do Tennessee. Zélia afirma que, em uma de suas oito idas à terra natal do cantor, 'pegou' algumas lembrancinhas como, por exemplo, o pedaço de uma camisa de Presley. “Consegui o pedaço da camisa dele que estava em exposição. Quando cheguei ao hotel, coloquei o tecido ao lado da televisão do quarto, mas a camareira jogou fora. Só me dei conta que havia perdido o pedaço da camisa, aqui em Taubaté”.

Alguns desses muitos objetos foram adquiridos por meio de trocas com outras pessoas que são associadas aos vários fã-clubes do Elvis espalhados pelo Brasil. “Nós somo amigos, trocamos materiais e informações sobre os eventos que vão acontecer, as próximas viagens”.


Fecho o post com uma música cantada pelo Elvis e que eu acho uma das melhores.

 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mais 365 dias...


 Apagando as velas do 8º aniversário

Vinte de janeiro. Dia de completar mais um ano de vida. Em 2013, aliás, tenho que ter paciência para aguentar as piadas do mesmo nível da clássica “é pavê ou pacumê?”, já que faço 24 anos. Enfim... a tal piadinha é mais uma história que será incluída na lista dos “causos” que cercam meu aniversário. A começar pela data, que não era para ser dia 20. Minha mãe sempre conta essa história e eu me divirto todas as vezes, nunca me canso de ouvir.

Explico: o médico disse que ela teria contração entre os dias 12 e 19 de janeiro, então poderia esperar tranquilamente em casa. O problema é que chegou o dia 20 e nenhum sinal de vida do bebê, no caso eu. Minha mãe foi, junto com minha avó, de táxi até o hospital Santa Isabel de Clinicas (atual Hospital Regional de Taubaté) e lá falou para o médico que não teve contrações. Uma cesariana foi feita com urgência, às 15h25. A razão para a contração não acontecer foi o fato de eu estar dormindo. Ou seja, cheguei ao mundo atrasado alguns dias, por causa do sono. Acho que isso explica a minha eterna dificuldade de acordar cedo ou de ter uma pontualidade britânica.

Vinte de janeiro. Dia de São Sebastião. Ainda bem que minha mãe não foi carola demais ao ponto de me batizar com o nome do santo. Já pensou, na hora do parabéns: “SE-BAS-TI-ÃO, SE-BAS-TI-ÃO”, em coro? Porém (ahhh, porém) não escapei do nome composto para não dar briga entre meus pais, já que cada um escolheu um nome. Se você está lendo esse texto e não sabe, me chamo Bruno Eduardo Baptista Castilho. Bruno por parte de mãe (ela adorava uma novela sobre italianos que passava na época e o personagem principal tinha esse nome) e Eduardo por parte de pai porque... ele achou bonito. Simples assim.

Vinte de janeiro. Só quem faz aniversário nesse mês sabe o quanto é traumático para uma criança não conseguir reunir seus coleguinhas para sua festa porque todos estão em Ubatuba. A saída, não muito agradável, é fazer a comemoração em fevereiro. As minhas festas aconteciam, geralmente, entre os dias 5 e 10. Tentei argumentar várias vezes contra esse plano, mas a resposta era a mesma: “Ok, vamos fazer em janeiro e você terá como convidados apenas suas tias-avós”. Não tinha réplica. Nem poderia.

Vinte de janeiro. Quando era criança, sempre tentava encontrar alguém famoso, de peso, que fizesse aniversário no mesmo dia que eu. Ou então algum fato histórico que tenha acontecido no dia 20. Bom, de "famoso" que faz aniversário na mesma data só encontrei o Wagner, goleiro do Botafogo nos anos 1990 e marcado pela fama de não enxergar à noite, e o jornalista Jorge Kajuru (se você não conhece, procure uma entrevista dele à Adriane Galisteu para ver o "naipe" da pessoa). De fatos históricos temos uma morte, a do Garrincha, em 1983 e a segunda apresentação do Barão Vermelho no Rock in Rio de 1985 (pelo menos uma para salvar!).

Vinte de janeiro. Nos dois últimos anos passei meu aniversário trabalhando. Em 2011 cobri um assassinato em Caraguatatuba. Em 2012, fiquei o dia inteiro no Pinheirinho, em São José dos Campos (dois dias depois as pessoas que moravam lá seriam retiradas). A música que os moradores cantavam na época ainda está na minha cabeça: "O Pinheirinho, o Pinheirinho ó. A nossa luta aqui vale mais que ouro em pó...". Isso era repetido como um mantra. Foi puxado, mas não reclamo. Foi até bom. É como se ganhasse experiência, profissional e pessoal, de presente.

Vinte de janeiro. Com a modernidade ficou mais fácil para as pessoas mandarem "parabéns", seja pelo Facebook, por mensagem de celular ou e-mail. Agradeço, mas prefiro os telefonemas. Melhor: prefiro os abraços, claro, de pessoas que verdadeiramente considero. Não sei se isso será possível esse ano. Espero que seja.

Vinte de janeiro. Mais um ano...
Aniversário de 5 anos, em 1994.