quarta-feira, 9 de julho de 2014

O vira-lata se transformou em poodle

Foto:EFE
Tenho que confessar que ainda estou tentando entender o que aconteceu no Mineirão na terça-feira. O show de horrores diante dos olhos ainda vai demorar para ser digerido. Eu nunca fui de torcer fanaticamente pela Seleção. Talvez apenas em 98. E a sensação depois do passeio alemão foi a mesma do que a 16 anos atrás, quando era apenas um garoto de 9 anos. Nessa Copa, talvez por ser aqui, passei a torcer mais. Não deu certo, fiquei triste. Chateado mesmo. Mais ou menos quando o Taubaté perde numa, infinitamente menor, série A-3 do Paulistão.

Estranho, né? Se pararmos para pensar não existe uma lógica. Apenas quem vive isso sabe como é. Não tem como explicar para quem não acompanha. É difícil. E tem como explicar a sensação de vazio depois de uma derrota, sendo que você não está diretamente ligado ao fato ou atuando em campo? Não, não tem. E essa é uma das grandes graças (ou desgraças) do esporte. Eu nasci gostando de esporte, principalmente de futebol, por influência do meu pai. O esporte é paixão e nem por isso posso ser considerado um cidadão alienado.

Durante o jogo, entre várias tirações de sarro (inclusive algumas minhas) nas redes sociais era possível ver sequências de 'kkkkk' a cada gol da Alemanha - e olha que foram sete! Os autores das 'web-gargalhadas' se autoclassificam como politizados, como 'não alienados', como não pertencente do pão e circo em que vivemos nos dias de hoje e blá-blá-blá... Está na moda torcer contra a Seleção, seja por ser contra os gastos da Copa, contra a CBF, contra o Marin, contra o Marco Polo Del Nero, por causa da saúde precária, da falta de educação... Ou seja, motivos não faltam. É claro que existe muita picaretagem no futebol. É claro que, para os 'craques' selecionados para tal competição, o dinheiro fala mais alto muitas (quase todas?) as vezes. Mas, para quem está de fora e gosta de futebol não tem como separar.

É claro também que todos os motivos para não acompanhar o esporte bretão são válidos. Precisamos melhorar a saúde, a educação, reduzir a corrupção e por aí vai. Mas brasileiro adora misturar as coisas e colocar política onde, muitas vezes, não existe. De quem foi a culpa da derrota no Mineirão? Da Dilma? Sério? (Lembrando, não sou partidário de A ou B). Aos que torceram para a Alemanha, a derrota em campo não vai fazer a qualidade do ensino melhorar, infelizmente.
Jogadores da Colômbia recepcionados com festa
E no facebook surgiram vários desses 'inteligentes' que torceram contra o Brasil agradecendo a Alemanha e chamando os que torceram de "otários" ou coisas do tipo. Se eles são tão inteligentes como dizem, por que estavam assistindo ao jogo e fazendo piadinhas nas redes sociais? Não sei, talvez o gosto do pão e a graça do circo estavam satisfatórios naquele momento.

Aliás, está na moda também 'brasileiros' torcerem para a Argentina. Pior: estão falando portunhol, chamando o time de Messi e companhia de "nossa seleção" (!!). Os argentinos (legítimos) estão passando por uma crise financeira e acredito que não deva existir os mesmos 'inteligentes' como aqui. Eles não torcem para o Brasil por causa disso. Ah, e os salários dos jogadores de lá são tão altos quanto os dos atletas brasileiros. E tem gente daqui que não liga em torcer por eles. A lógica? Não encontrei. Tente você, leitor!  

A internet e seus 'politizados' transformaram o complexo de vira-lata em complexo de poodle. Só quem tem um cachorro dessa raça sabe como é: cheio de frescuras, ele late até encher a paciência, desafia os demais para duelos, mas não fazem nada além disso. Acho engraçado que os 'latidos virtuais' ainda não chegaram ao carnaval (olha eu falando do carnaval novamente). Talvez porque os 'inteligentes' estejam se embebedando ao som das marchinhas.

A intenção que dá ao ouvir os latidos dos poodles é que apenas o brasileiro para para ver jogos da Copa. Que os alemães, ingleses, franceses e demais europeus não se juntam na praça para ficar em frente a telões. Isso é coisa só de brasileiro alienado. É? Mesmo?

Aos 'inteligentes', deixo um recado: na próxima, saiam de casa na hora do jogo. Leiam livros.
Aos 'patriotas da Copa do Mundo' que dizem ser "brasileiros com muito orgulho e muito amor" apenas durante eventos esportivos vai o recado também: o esporte não é tudo. Amamos, gostamos, mas não é tudo. Antes de apontar o dedo para alguém, olhe para o próprio umbigo e tentem fazer algo também para o país, para não correr o risco de morrer engasgado com a coxinha de ossobuco.

E para os 'brasileños': o papel de vocês é patético.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Vai ter ou não vai ter, eis a questão...



Hashtag VaiTerCopa ou Hashtag NãoVaiTerCopa?

Em qual time você está? Eu estou dividido. Há sete anos, quando o país foi confirmado como sede, eu não concordei. Não concordo até hoje. Isso porque já era possível prever os atrasos nas obras ou - pior - a não entrega delas, os estádios absurdamente caros, etc...

Claro que não faço parte do time dos chatos. Aqueles que chamam de alienados os colecionadores de figurinha por achar que "poderiam estar fazendo algo pelo país ao invés de se reunirem para completar o álbum". O grande problema nisso tudo é que as mesmas pessoas que fazem essas críticas são as mesmas que adoram - e até se gabam de - ficar bêbadas no carnaval de São Luiz do Paraitinga. Isso também não seria uma perda de tempo? Não seria alienação? Copa do Mundo tem de quatro em quatro anos e o carnaval que tem todo começo de ano? Ah, e as reuniões para as trocas de figurinha não matam pessoas, já o carnaval... as estatísticas estão aí para mostrar quantas acontecem nas estradas brasileiras.

Bom, mas o assunto é o Mundial. Até ontem, dia 11, eu estava bem tranquilo quanto à Copa. Não fui afetado pela ansiedade como aconteceram outras vezes. Mas isso começou a mudar no final da tarde. Saí da redação com uma sensação diferente, semelhante a que sinto quando deixo o local de trabalho no final do ano. Como se algo fosse mudar depois do dia 12 de junho. Estranho, não?

No caminho da rodoviária até minha casa, uma caminhada de no máximo dez minutos, pude ver que as ruas, enfim, estão enfeitadas. Os enfeites, na verdade, foram feitos tão 'nas coxas' quanto os estádios. Mas, assim como os palcos da Copa, eles estão lá. De um dia para o outro o clima característico do fanatismo pelo principal evento do futebol tomou conta de parte da cidade. Bom, pelo menos do caminho que eu faço da rodoviária até em casa.

Porém é necessário que todos tenham a noção de que a 'Copa das Copas' não vai acontecer.  Cada vez que leio notícias sobre José Maria Marin, Joseph Blatter e suas maracutaias, todas as vezes que vejo imagens do horroroso e inacabado Itaquerão (ou Arena Corinthians ou, ainda, Arena São Paulo) me dá uma dor no estômago. Isso aumenta quando leio as notícias das alfinetadas dos gringos. Claro que, sobre esse item, temos que relevar porque a
lguns comentários são carregados de preconceito, mas é complicado mesmo assim.

E, se com a Copa já está difícil, imagina daqui a dois anos, com os Jogos Olímpicos? A queda do cavalo tende a ser pior e mais dolorosa. Acho que a energia que vai ser gasta nesses protestos deve ser concentrada para protestos contra os Jogos Olímpicos (que, é bom lembrar, muita gente comemorou a escolha na praia de Copacabana, com telão e tudo mais).

Até porque agora não adianta nenhum protesto contra a Copa. Ela já está aí. A vaia contra a Dilma é válida, contra o Marin e o Blatter vale ainda mais. Só não seja chato de ficar buzinando na orelha das pessoas falando que "quem gosta de Copa é alienado", "que o Neymar não vale mais que um professor" e outros discursos que são vazios por saírem da boca para fora.

Os ídolos esportivos existem em todos os países, não só no Brasil. Americano gosta do tal 'football', jogado com as mãos e que tem a bola oval. Só não existe Copa para o esporte porque quase ninguém mais joga.  E lá, acredito, ninguém fica falando de alienação e coisa parecida. Sejam responsáveis no momento certo.

Caso você não goste de Copa do Mundo não assista. Desligue a televisão, vá ler um livro. Ah, e nos jogos do Brasil, procure não sair cedo do trabalho.

Resumindo tudo isso: Vai ter Copa, mas não deveria (pelo menos não aqui).