domingo, 25 de novembro de 2012

Grande Prêmio Monsenhor Silva Barros

Senna, Prost e Schumacher

Nasci em 1989, durante a época boa da Fórmula Um. Com Nelson Piquet e, principalmente, Ayrton Senna nas pistas o Brasil parava para assistir aos Grandes Prêmios, geralmente transmitidos nas manhãs de domingo (digo geralmente, pois tinha o GP do Japão que era de madrugada aqui ou no Canadá, que passava à tarde etc...).

O problema é que não consegui aproveitar muito tempo esses anos de ouro do esporte a motor, pois não vi Piquet correr e quando Senna morreu tinha apenas cinco anos de idade. Mas isso não me impediu de curtir um pouco desse clima. Lembro que, ainda pequeno, adorava saber notícias da Fórmula Um (mesmo que não entendesse nada. Aliás, fingia muito bem que entendia algo sobre o assunto).

E todo domingo de corrida (minhas primeiras lembranças de GP's são de 1993) eu viajava na imaginação e montava um circuito diferente na sala da casa da minha avó, onde morava. Tinha carrinhos de F1 pequenos, de plástico, um par para cada equipe (acho que eram 8 carros no total). Os carrinhos pintados em azul e amarelo eram da Williams, os pintados em vermelho e branco eram da McLaren (nunca gostei da Ferrari) e assim por diante.
  
Donington Park 1993; primeira volta fantástica de Senna e Barrichello

Em cada "Grande Prêmio" que eu criava, montava um grande esquema. Era como se fosse uma transmissão de verdade para a televisão. O tapete da sala era usado como caixa de brita (aquela areia que fica ao lado da pista). A distância entre a estante e o chão era um túnel como o de Mônaco. As tampinhas de garrafa de refrigerante, coladas umas nas outras, serviam de barreira de pneus.

Durante a "corrida", meus olhos eram as câmeras de tevê. Assim, colava o rosto no chão para simular as micro-câmeras que ficavam nas curvas, próximos das zebras. Para fazer as imagens aéreas, pegava um helicóptero que tinha (também usado nas brincadeiras com os bonequinhos do Comandos em Ação, em histórias de guerra que criava) e ficava em pé, olhando para o chão. Para criar a chuva, pegava o "Passe Bem" (aquele liquido para facilitar na hora de passar a roupa) e borrifava pra cima. Queria que tudo ficasse igual a um GP de verdade.

Ah, e não tinha essa de favorecer o Senna nas minhas corridas. Tinha dia que ele ganhava, tinha dia que não. Cada domingo, era um enredo diferente. Olhando pra trás fico um pouco assustado com meu perfeccionismo em simples brincadeiras de criança. Mesmo assim, conseguia me divertir muito com os Grandes Prêmios da Praça Monsenhor Silva Barros.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

DeLorean de bolso


Pra mim sempre foi inevitável: era só assistir o filme "De volta para o Futuro" que imaginava ter um DeLorean daqueles, com portas no estilo 'asa de gaivota', para passear no tempo e ir para onde eu quisesse
Na verdade, dentro da minha imaginação de criança, era muito complicado pensar no carro. Sempre pensei em algo mais prático, como um relógio, por exemplo. Algo que fosse fácil de carregar. Seria então um "DeLorean de bolso". 
Os anos se passaram e esse "objeto" ainda não saiu da minha cabeça. Dependendo da situação, penso como seria (e o que aconteceria) caso tivesse um aparelho desse.  

Penso em voltar ao passado e viver um pouco das histórias engraçadas que meu pai conta da época em que ele era jovem ou assistir um jogo do Taubaté na primeira divisão do Campeonato Paulista contra os times grandes no Joaquinzão. Não, melhor: penso em  como seria assistir um jogo do Taubaté no antigo Campo do Bosque, bem perto do gramado, podendo xingar o Pelé, só para ele perder a concentração (digo xingar porque seria adversário. Claro que iria vibrar com o futebol do Rei junto com Pepe e companhia).

Poderia voltar aos anos 80 e comprar discos que não consigo achar nos dias de hoje, nem em sebos, nem em lojas especializadas.
Claro, penso também no que poderia ter feito de diferente há alguns anos atrás e consertar certas coisas. Mas, na minha imaginação, esse aparelho não seria apenas para ir e voltar. Serviria também para parar o tempo, sendo que só eu e a(s) pessoa(s) que estivesse(m) comigo não parariam (ok, eu sei que é viagem demais, delírio demais). Isso seria bom para aquele momento em que você está relaxado, não quer saber de outra coisa, apenas de curtir o momento. 

Um exemplo: Quando você está com uma linda garota, dando beijos maravilhosos e tem que parar, pois vai acordar cedo para trabalhar no dia seguinte. Essa seria a serventia.
Só que ao mesmo tempo que penso nas coisas boas, penso o outro lado da moeda. Coisas do tipo: "Por que só eu teria um desse?"; "E se várias outras pessoas também tivessem um aparelho desse. O que aconteceria?"... e por aí vai.
Aí eu caio na real e começo a pensar que, por não poder voltar no tempo, temos que dizer as coisas se estamos com vontade de dizer, fazer as coisas se estamos com vontade de fazer, etc, etc, etc. O discurso, claro, é muito fácil. Temos "só" que colocar em prática.


PS.: Estava procurando fotos para esse post e encontrei um relógio em homenagem ao DeLorean. Tomei um susto, mas não passa de um relógio de pulso (ainda).

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"Teste para cardíaco, amigo"

Max comemora o acesso com a torcida. Foto: Rogério Marques/OVALE

Assim como o último post, começo esse texto com uma máxima: “O jogo só acaba quando termina”. Parece óbvio e até meio bobo, mas é verdade. A prova aconteceu há exatos três anos.

Dia 8 de novembro de 2009. O Joaquinzão estava lotado. Era a derradeira partida da 4ª (e última) Divisão do Campeonato Paulista. Um degrau muito baixo e humilhante, onde ninguém pensou que o tradicional E.C. Taubaté pudesse chegar. E o martírio que durou sete meses estava próximo do fim.

A situação do último jogo era a seguinte: O Burro da Central enfrentaria o Palestra São Bernardo enquanto o Red Bull jogava em Campinas contra o Desportivo Brasil. Os quatro times tinham chance de conseguir o acesso, mas apenas dois conseguiriam. Só a vitória interessava e com diferença de três gols.

Nas cabines, eu estava fazendo uma cobertura dupla. Videorreportagem para a TV Câmara de Taubaté e textos para o Lance!. Anotava e filmava tudo. Ao meu lado, o joseense (e meu futuro companheiro de trabalho e irmão) João Paulo Sardinha. Não vou me atentar aos detalhes do primeiro tempo, que foi nervoso. Já que o Taubaté perdeu um pênalti e tomou um gol. Ou seja, a emoção seria em dobro na segunda etapa.

Gilsinho empatou logo na volta dos vestiários. Mas, 1 a 1 era pouco. Em Campinas, o Red Bull vencia por 2 a 1. Ou seja, o Burro precisava de mais dois gols. A virada veio apenas aos 45 minutos (!), com Thiago Furtuoso de pênalti. A placa de acréscimos sobre e marca mais três minutos. Mais três minutos para fazer um gol... Porém, uma bomba surge da arquibancada e acerta o banco de reserva do Palestra. Os jogadores reagem e jogam gelo, copos de água e tudo que tinham em mãos na torcida.

Meu pensamento na hora foi de: “Ferrou! Acabou. O árbitro vai terminar a partida por falta de segurança e os três minutos foram para as cucuias. Mais um ano nesse inferno de sete meses”.



Mas os três minutos viraram oito. E aos inimagináveis 54 minutos do segundo tempo, quando já estava encostado na parede só esperando o apito final para guardar as coisas e descer para os vestiários, o atacante Max (até então contestado por todos) chegou até a linha de fundo, cruzou para Gilsinho só empurrar para as redes e marcar seu nome na história do clube.

O estádio explodiu em festa. Eu, na cabine, não sabia o que fazia. Minha primeira reação foi abraçar meu amigo Sardinha para depois ver se realmente tinha filmado o gol histórico. Sim, eu filmei! Está documentado (meio 'malemá', confesso, mas está lá!). Depois desse dia, nunca mais deixei de acreditar que o jogo pode virar a seu favor, mesmo parecendo perdido. Mesmo oito minutos (ou nove) depois do tempo estipulado. O esporte também ensina coisas.

Quando finalizei meu vídeo, terminei meus textos, a ficha ainda não tinha caído. Eu estive presente em um dos maiores jogos de futebol da história (sem exagero!). Pena que os "deuses do futebol" escolheram um jogo da ridícula 4ª Divisão do Paulista. A sorte, pelo menos, é que foi em um jogo decisivo e que a alegria ficou estampada em nossos rostos durante uma semana e vai ficar gravada na memória por toda a vida.




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A primeira vez sempre tem emoção

“A primeira vez a gente nunca esquece”. Calma! O que você vai ler agora nada tem a ver com contos adultos que, aliás, estão na moda com o tal “Cinquenta tons de cinza”. Bom, começo o texto com essa máxima porque ela é verdadeira. Se encaixa em todas as situações, para o bem ou para o mal.
A minha primeira vez em um estádio de futebol aconteceu em 1995. Dia 20 de setembro. Tinha seis anos de idade. O jogo era Corinthians e Vitória (BA), válido pelo Brasileirão daquele ano e seria disputado no templo do futebol valeparaibano, o estádio Joaquim de Morais Filho, em Taubaté.
Lembro que passei o dia inteiro pensando no jogo, afinal era a chance de ver os ídolos de perto. Principalmente o goleiro Ronaldo, que sempre estava "presente" nas peladas disputadas no estacionamento do Fórum da Praça Monsenhor Silva Barros (quando eu fazia uma defesa espetacular era batata: imitava os locutores esportivos gritando “Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaaaaaaaaaaaldooooo” ou “Esssspaaaaaaaaaaalma Ronaldo!”). Fui pra escola naquela tarde chuvosa com a camisa listrada em preto e branco por cima do moletom... verde! (ok, eu não fazia ideia do crime que estava cometendo).

As horas se passaram e a ansiedade aumentou. Na televisão, o jornal dava flashes ao vivo do estádio quase lotado. Meu pai, que estava com os ingressos, não chegava do trabalho. Já pensava no pior. Mas ele chegou e fomos eu, ele, meu tio Arlindo – irmão da minha mãe - e um amigo do meu pai, o Lula (Luiz Fernando Sbruzzi, que anos depois seria meu professor de física no colégio). De corintiano mesmo só eu e meu tio. Meu pai é são-paulino, fã de Telê Santana e o Lula torce para a Portuguesa. Creio que ele acabou indo para garantir a carona. Nos levou em seu Del-Rey, daqueles com relógio digital no teto. Coisa linda!
No estádio, não lembro de muita coisa. Talvez tenha ficado impressionado com tudo. Porém, quatro coisas ficaram bem gravadas na minha memória. A primeira foi no momento do aquecimento dos jogadores antes da partida, quando todos gritaram o nome do Ronaldo e ele, para agradecer, acenou para a torcida. É como se ele tivesse acenado pra mim, no meio de milhares de pessoas na arquibancada do Joaquinzão.
Outra coisa que marcou foram os gritos do meu pai para que os torcedores que estavam na nossa frente se sentassem. A cada ataque perdido do Corinthians era um SEEEENTAAAAA! ou SENTAAAAAAEEEEEE!
A terceira lembrança foi quando o meia-esquerdo Elivelton foi cobrar um lateral bem na frente da arquibancada onde estava. E, como o jogo estava parado por algum motivo, todos gritaram “Uh, Elivélton! Uh, Elivélton!”. Eu, claro, gritei também (acho que foi o único grito que soltei naquele dia. Como não vi os gols, por ser muito baixo, não lembro de ter gritado).


A última e mais marcante lembrança aconteceu no final, quando o jogo acabou. Na hora, achei estranho e não entendia porque ninguém ia embora. Até que vi uma menina sendo carregada com sangue na cabeça. Fui saber (e entender) um tempo depois o que tinha acontecido. O lateral-direito do Corinthians, Victor, jogou a camisa pra galera que se amontoou no muro que não resistiu e cedeu, derrubando as pessoas no fosso do estádio.
Quando, enfim, cheguei em casa, minha mãe me abraçou falando que estava aliviada de ver que o filho e o irmão estavam bem (ela tinha recebido a noticia do acidente por um amigo da família que é bombeiro).
Assim foi meu primeiro encontro com um estádio de futebol, com o Joaquinzão. Acho que nunca agradeci meu pai por ter me apresentado o estádio em que eu voltaria diversas vezes para jogar, assistir aos jogos e, mais recentemente, trabalhar. Todo pai deve levar o filho no estádio de futebol, pelo menos uma vez na vida, mesmo que seja para assistir um jogo amistoso ou que vale o 5º lugar da terceira divisão do Campeonato Paulista.
O jogo, na verdade, é o plano de fundo. Não tem tanta importância. O importante é estreitar o laço pai e filho e não há nada melhor do que o estádio de futebol para isso!
Obrigado pai!