quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A primeira vez sempre tem emoção

“A primeira vez a gente nunca esquece”. Calma! O que você vai ler agora nada tem a ver com contos adultos que, aliás, estão na moda com o tal “Cinquenta tons de cinza”. Bom, começo o texto com essa máxima porque ela é verdadeira. Se encaixa em todas as situações, para o bem ou para o mal.
A minha primeira vez em um estádio de futebol aconteceu em 1995. Dia 20 de setembro. Tinha seis anos de idade. O jogo era Corinthians e Vitória (BA), válido pelo Brasileirão daquele ano e seria disputado no templo do futebol valeparaibano, o estádio Joaquim de Morais Filho, em Taubaté.
Lembro que passei o dia inteiro pensando no jogo, afinal era a chance de ver os ídolos de perto. Principalmente o goleiro Ronaldo, que sempre estava "presente" nas peladas disputadas no estacionamento do Fórum da Praça Monsenhor Silva Barros (quando eu fazia uma defesa espetacular era batata: imitava os locutores esportivos gritando “Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaaaaaaaaaaaldooooo” ou “Esssspaaaaaaaaaaalma Ronaldo!”). Fui pra escola naquela tarde chuvosa com a camisa listrada em preto e branco por cima do moletom... verde! (ok, eu não fazia ideia do crime que estava cometendo).

As horas se passaram e a ansiedade aumentou. Na televisão, o jornal dava flashes ao vivo do estádio quase lotado. Meu pai, que estava com os ingressos, não chegava do trabalho. Já pensava no pior. Mas ele chegou e fomos eu, ele, meu tio Arlindo – irmão da minha mãe - e um amigo do meu pai, o Lula (Luiz Fernando Sbruzzi, que anos depois seria meu professor de física no colégio). De corintiano mesmo só eu e meu tio. Meu pai é são-paulino, fã de Telê Santana e o Lula torce para a Portuguesa. Creio que ele acabou indo para garantir a carona. Nos levou em seu Del-Rey, daqueles com relógio digital no teto. Coisa linda!
No estádio, não lembro de muita coisa. Talvez tenha ficado impressionado com tudo. Porém, quatro coisas ficaram bem gravadas na minha memória. A primeira foi no momento do aquecimento dos jogadores antes da partida, quando todos gritaram o nome do Ronaldo e ele, para agradecer, acenou para a torcida. É como se ele tivesse acenado pra mim, no meio de milhares de pessoas na arquibancada do Joaquinzão.
Outra coisa que marcou foram os gritos do meu pai para que os torcedores que estavam na nossa frente se sentassem. A cada ataque perdido do Corinthians era um SEEEENTAAAAA! ou SENTAAAAAAEEEEEE!
A terceira lembrança foi quando o meia-esquerdo Elivelton foi cobrar um lateral bem na frente da arquibancada onde estava. E, como o jogo estava parado por algum motivo, todos gritaram “Uh, Elivélton! Uh, Elivélton!”. Eu, claro, gritei também (acho que foi o único grito que soltei naquele dia. Como não vi os gols, por ser muito baixo, não lembro de ter gritado).


A última e mais marcante lembrança aconteceu no final, quando o jogo acabou. Na hora, achei estranho e não entendia porque ninguém ia embora. Até que vi uma menina sendo carregada com sangue na cabeça. Fui saber (e entender) um tempo depois o que tinha acontecido. O lateral-direito do Corinthians, Victor, jogou a camisa pra galera que se amontoou no muro que não resistiu e cedeu, derrubando as pessoas no fosso do estádio.
Quando, enfim, cheguei em casa, minha mãe me abraçou falando que estava aliviada de ver que o filho e o irmão estavam bem (ela tinha recebido a noticia do acidente por um amigo da família que é bombeiro).
Assim foi meu primeiro encontro com um estádio de futebol, com o Joaquinzão. Acho que nunca agradeci meu pai por ter me apresentado o estádio em que eu voltaria diversas vezes para jogar, assistir aos jogos e, mais recentemente, trabalhar. Todo pai deve levar o filho no estádio de futebol, pelo menos uma vez na vida, mesmo que seja para assistir um jogo amistoso ou que vale o 5º lugar da terceira divisão do Campeonato Paulista.
O jogo, na verdade, é o plano de fundo. Não tem tanta importância. O importante é estreitar o laço pai e filho e não há nada melhor do que o estádio de futebol para isso!
Obrigado pai!



3 comentários:

  1. Olá, Bruno!
    Como você mesmo disse: “A primeira vez sempre tem emoção”.
    É assim que estou me sentindo, sendo a primeira a escrever no seu blog.
    Seu texto transmite uma mensagem muito importante que é: para ter qualidade na relação entre pai e filho é preciso compartilhar e participar da vida do filho, para criar laços de confiança, respeito e amizade.
    Brincar com crianças, não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escolas,
    mais triste ainda é vê-los sentados sem ar, com exercícios estéreis sem valor para a formação do homem” (Carlos Drummond de Andrade)
    Beijão enorme, Tia Margô

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  2. Paixão por esporte. Coragem de falar de emoção. Grande Bruno. Parabéns pelo Blog.

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  3. Que lindo texto Bruno, fiquei emocionada, seu pai se já o leu com certeza deve estar muito orgulhoso do filho, emocionado tb e feliz por ter podido proporcionar um dia assim emocionante pra vc, gosto muito de seu pai, vc conheço pouco, mas mesmo com este pouco pude notar o homem integro que é, batalhador e esforçado pra fazer o melhor q pode no trabalho e na vida, desejo cada dia mais sabedoria e sucesso na sua vida, Parabéns

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